MUDAMOS DE ENDEREÇO
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quinta-feira, 23 de setembro de 2010
MUDAMOS
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
FALSO AMIGO

terça-feira, 3 de agosto de 2010
Para que serve política

Diziam os mineiros que Dr. Freitas vinha de família pobre. Nascera lá mesmo, onde hoje governa já por dois mandatos consecutivos. Tinha pai pedreiro, cuja saúde não era das melhores: era hipertenso, o que não o livrava da necessidade de pagar o pão que dividia com a mulher e mais 4 filhos, dentre eles o Dr. Freitas, caçula.
A pobreza logo lhes jogou na luta pelo pão, desde o primogênito ao caçula, só Freitinhas, na época. Foi padeiro, sapateiro, açougueiro e, por fim, pedreiro como o pai. Virou doutor graças a uma herança deixada por um tio-avô sem nenhum herdeiro de sangue sequer. Comprou uma casa, formou-se em advocacia e se fez na vida. Hoje, é casado, prefeito e dono de uma vistosa fazenda em Minas.
A conhecemos no dia do almoço, que prometida um cardápio com todas as delícias da culinária mineira a que se tinha direito. A casa era belíssima, de interior todo trabalhado em madeira, tudo bem rústico. Nos causou estranheza sua tara por tapetes: muitos deles espalhados pelo chão. Depois de muito bem recepcionados pelo excelentíssimo Dr. Freitas - em roupas muito elegantes para a ocasião - bastávamos aguardar a chegada de um outro amigo do prefeito também convidado.
Soubemos [é cacoete de jornalista] de que se tratava de um antigo secretário, há algum tempo afastado da política local por acusações "injustas" (aspa do próprio Dr.) de corrupção. Gonzaga, o tal amigo, chegara. Almoçaríamos enfim.
No caminho, tapetes, muitos deles.
Depois da refeição, um café e a despedida. Com tapinhas nas costas e nosso "muito obrigado", já estávamos de saída quando flagramos Gonzaga chutando alguma coisa para baixo de um belíssimo tapete persa. Esses tapetes...
Nós, jornalistas, dia desses emplacamos mais uma matéria de capa sobre Dr. Freitas. Falamos de barriga cheia, por isso abordamos a falsa(diremos já) idoneidade política do prefeito; idôneo só se tivesse sido para Gonzaga, que metera a mão numa grana preta e tomado de volta seu cargo de onde fora exonerado.
Eu e meu amigo gostamos de política. Ela nada mais é que um convite para um almoço, no qual a beleza está nos tapetes. São lindos porque enfeitam, mas suspeitam já que escondem. É com isso que nós jornalistas enchemos a pança.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
PARTIDA

quinta-feira, 15 de julho de 2010
2 anos de Da Prosa à Poesia


quarta-feira, 30 de junho de 2010
CLIMA

sábado, 19 de junho de 2010
MORTE DO ANTI-CRISTO

A quem apreciava seu tom descrente da pureza humana, certamente foi uma perda doída. Bem verdade, muitos choraram, outros soltaram rojões. Ao contrário da maioria das mortes, de onde derivam lutos duradouros, veio comemoração de instituições que guardavam rancor pelo defunto, em cujas obras não as poupava nem um pouco de críticas agressivas.
Mas o morto matou Deus sem muito esforço. Em suas produções sempre encontramos textos carregados de ceticismo e, muitas vezes, tão realistas que teimamos em não querer reconhecer a verdade nua e crua. Talvez por isso despertou cólera, por ser tão transparente, árido, inescrupuloso e valente, em razão de enfrentar a força de seus perseguidores.
Na semana, perdemos a letra agnóstica de nosso alfabeto, coroada pelos mais altos tributos em literatura, sem mesmo nos despedir daquele que ensaiou um mundo cego esquecido por Deus. Nosso autor não quis deste regaço que nega, criação do homem para preencher lacunas que não soube explicar. Nosso autor preferiu confessar a ignorância a inventar fantasias.
Está morto, tanto quanto o deus que matou. Não quis flores no cortejo, tampouco uma sepultura. Quis que o corpo fosse consumido em fogo, e suas cinzas espalhadas pelo pedaço de chão lusitano que mais amou.
Embora odiado, as beatas no fundo sofrerão com seu falecimento. As beatas, seus amantes e inimigos... Perseguidores acharão que a guerra está ganha na ilusão de que a morte do autor pontuou seu fim. Nosso defunto deixou, no entanto, legado em registros. Isto será o suficiente para mantê-lo vivo, tornar sua voz ainda audível nos textos tão vazios do sacro e tão repletos do real bruto. Ao escrever, todos sentirão a falta da letra que morreu.