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terça-feira, 9 de dezembro de 2008

OPOSTOS SEMELHANTES

Crônica pulbicada no dia 7 de Dezembro de 2008 no jornal Já!

O Sul afoga em águas que caem incansavelmente em seu chão. Bem dizer, está quase morrendo debaixo de tanta água. A chuva incessante, com plena certeza, um fruto do aquecimento global e da falta de regularização climática ocorrida de uns tempos para cá, esbarrou no território sulino do Brasil e ali se aloja. As nuvens ancoraram em Santa Catarina e lá descarregam o peso que lhes incomodam. No entanto, o desconforto, as precipitações contidas naquele amontoado de algodão voador, teima em ficar. Choraminga no território catarinense todas as gotas de água que a população veria em vários meses. Santa Catarina morre nas águas pluviais do mês de Novembro. O ármario levado pelas enxurradas, as telhas caídas, os demoronamentos, cortes de energia elétrica e água potável, pessoas desaparecidas. Cadê a comida? Pessoas morrem nas ininterruptas chuvas no Sul do Brasil.
Sensibilizado, todo o país abraçou o estado barriga-verde para consolo das perdas e busca de recuros de recuperação da região, afinal, brasileiros estavam morrendo nas amarguras que a Mão Natureza (que de mãe não tem quase nada) lhes impôs. Ela foi bem sacana: está pouco se importando com as mais de 100 pessoas cujas vidas foram levadas pelas águas correntes da chuva. O paulistano, o mineiro, o carioca, o goiano se juntam para evitar que mais irmãos morram afogados nos desvios das águas dos rios.
Os governos se incumbem na divulgação de campanhas, vários condomínios contribuem na arrecadação de mantimentos, rendas de eventos são destinadas para Santa Catarina. A solidariedade jorra de todas as partes.
Parece algo inédito - concordo ser difícil de esconder essa impressão.
Triste foi o fim das mais de 100 pessoas mortas nas chuvas sulinas de Novembro. Aquela tromba d'água e pronto: muita gente morre. Uma catátrofe.
Outra, para ser mais exato.
No outro extremo do país, na região Nordeste, o chão ressecado e já partido clama por água.
Seria muito bom se um pouco das chuvas daqui de baixo fossem lá para cima.
O incrível é como a solidariedade fica menos saliente nesse caso.
Há quanto tempo a seca mata o brasileiro do Norte!? E quantas campanhas vimos acontecer em seu benefício?
Ninguém responde.
E nada dizem, porque nossos problemas estão em outras chuvas e outras secas.
Na verdade, eles se traduzem na falta de tempestades de consciência nos cérebros dos nossos governantes, assim como na aridez dos seus corações.

2 comentários:

Juliana Bragança disse...

Muito bom seu ponto de vista! A gente se comove com os mais de 100 mortos do sul, mas nao ta nem ai pros milhares que morreram e continuam a morrer no nordeste!
bjos

Anônimo disse...

É verdade Acostaa!!
niguém se importa com o Nordeste que desde sempre sofre, por que estamos tão solidários com SC??
não estou dizendo que não deveríamos estar, mas temos que tratar o Brasil como um todo, igualmente.
ABRAÇO DO CIÇO!!