Paletas

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

PARA QUE TANTO? É LOGO ALI NA ESQUINA!




Em meio à catástrofe de SC, problemas tão graves quanto e mais visíveis são ignorados


Bem mais próxima que Santa Catarina, a Zona Leste de Araras, em cujos terrenos estão alojados 34 barracos (já foram 200) do MST – Movimento dos Sem-Teto – seres humanos precisam de ajuda tanto quanto os desabrigados pelas chuvas no Sul do país.


Sobre o chão de batida terra vermelha, vários casebres feitos de pedaços de paus e tábuas, espremem-se num espaço de menos que um quarteirão, abrigando gente que luta para conquistar um lugar para morar com dignidade.

E tal luta é bem antiga, muito mais velha do que aquela vivida pelos irmãos de catástrofe de Santa Catarina.

Aqui, lado a lado, temos necessitados e benemerentes. Dentre aqueles, há a coordenadora e líder do grupo, Lucimara e Silva, de 35 anos, que se entristece com o desdém para com as famílias do assentamento. “As pessoas de lá – referindo-se às vítimas das chuvas de Santa Catarina – precisam de ajuda, mas só porque teve o toró. Eles estão sofrendo, sim! Mas, nós aqui, SEMPRE tivemos necessidades e nunca tivemos assistência alguma”, desabafa, sem mostrar ressentimento, em tom de lamento.

Somando-se às palavras de Lucimara, vieram as de outra moradora do local, Nair Aparecida Eugênio (46 anos), empregada na colheita de laranja que, mais sucintas, mostraram o sofrer pela desigualdade: “Para falar bem a verdade, eu me sinto discriminada: só porque é do Sul que ajudam? Tem ararense precisando de amparo”, experimenta lembrar.

Outras três mulheres, sentadas à porta de um dos casebres, Maria de Lurdes Inocêncio Santos (49 anos; nascida em Alagoas e em Araras desde os 15), Lucinalva Santana Santos (28 anos, baiana, na cidade há 10 anos) e Josefa Silvino de França (45 anos, paraibana, há 26 anos aqui) manifestaram pura resignação: “Ninguém ajuda! Já cansamos de procurar, mas ninguém ajuda”, disseram quase em uníssono.

Um pouco mais adiante, por entre as ruelas que escancaram a pobreza, entulhando a visão, seo Norato Valentim, com ingenuidade pueril, tenta entender os motivos pelos quais as vítimas de SC foram consideradas pelos beneméritos da cidade, como “mais vítimas” do que ele e seus vizinhos de infortúnio: “Eles acham que os de lá precisam muito mais, porque nós aqui temos onde morar” – referindo-se aos casebres de pau-a-pique espetados nas terras invadidas – onde está morando já há dois anos.

Sônia Aparecida Rosa, de 35 anos, concorda com o seo Norato: “Para eles (moradores de SC) está mais difícil, a gente tem um pedaço de chão, pelo menos” – declara, como se quisesse espantar o fato de que a terra não é dela.

As esperanças do pessoal abrigado no assentamento estão depositadas nos políticos que assumirão o comando da cidade no próximo ano.

Em janeiro, eles acham que verão solucionados os problemas que os assolam desde 2006. Não só aqueles que dizem da falta de chão, mas, também, aqueles ocasionados pela falta de infra-estrutura.

Morando irregularmente no local, acreditam que não serão banidos dali, porque ancorados na fé.

Uma mulher, arqueada pelo peso do tempo, passou por nós e perguntou: “Já é Natal?” Diante da resposta negativa, conformou-se, balançando a cabeça e seguiu seu caminho.

Irene, uma garotinha expedita, por perto durante todo o tempo, explicou: “Ela sempre pergunta se é Natal, porque no dia vem gente da cidade trazer comida”.

A velha senhora não mora em Santa Catarina.

2 comentários:

Anônimo disse...

Texto muito bom, Chapola. Parabéns!
Por outro lado, lamentável essa situação, mas é o poder da mídia... Por curiosidade, você foi até o local ou teve alguma referência?

Abraço!

Anônimo disse...

Matéria muito boa!!
eu já tinha visto ela antes de ser publicada...hauahauah
abrass acosta!!