OLHOS DE RESSACA

Não, não vou lhes contar sobre Capitu, de Machado de Assis. Na realidade, o que me veio tem certa relação com a 'cigana dissimulada', falsidade encarnada que instiga e intriga.

Acordei de ressaca. Pálpebras pesadas, dores de cabeça e estômago embrulhado. Não havia bebido, porém. Em excesso, somente anedotas que volta e meia a gente ouve por aí. O que eu vomitei depois comprovou este meu diagnóstico; estava tudo ali misturado nas minhas náuseas postas para fora. Na sopa asquerosa que cuspi nadavam as asnices formadas pela dissimulação machadiana.

Antes do meu conto, todo mundo sabe que o Brasil conhece fingimento, porque tem povo malandro. Sagacidade nascida com a gente, velhacos dominadores desta tramóia. Gente que quando nasce já sabe da arte da birra para conquistar. Daí em diante, é tudo questão de adequação da destreza.

Não diferente de qualquer brasileiro, quem hoje corre atrás da faixa de Lula abusa tanto quanto da artimanha das máscaras. Eu não perdoo um: nem Serra, nem Dilma, tampouco Marina. Também não quero discutir quem seja o melhor nesta dança de fantasias, porque geralmente os melhores dançarinos são os que fazem dançar o povo. E dançar uma outra melodia, mais desgraçada.

Cada um à sua moda, pouco a pouco, tucanos, verdes e petistas vão enchendo nossos copos com doses breves, no entanto fortes e amargas, de fingimento praticado para nos persuadir. Vilões...

Ou não. Nós todos continuaremos sendo, assim como sempre fomos, leitores sob as rédeas de Machado de Assis: desorientados e confusos. Acreditar, ou não será um risco que se correrá até que um deles suba as escadas do Palácio da Alvorada. Até lá, terei estes meus mesmos olhos de ressaca.