Paletas

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O EXÍLIO FORA DA CANÇÃO

O exílio é um bom remédio que combate muitas das mazelas da vida. São sofrimentos materializados em problemas cujas variações ocorrem em gênero, número e grau que instigam a fuga. Não por convardia, digo logo. Problemas são enfrentados de fronte, mas o excesso deles acaba acarretando o que a medicina popular denomina vulgarmente como "enchimento dos pacovás". Com efeito, a gente acaba preparando uma pequena trouxa de roupas e ruma para longe das moléstias responsáveis pela nocividade à paciência de qualquer santo.
Era mais um dia quente de verão. Eu ainda não havia me exonerado, fui noutra hora. Na rua, as sombras eram disputadas pela massa andante debaixo de um tremendo calor. Dentre o punhado de gente, uma simpática mãe, com um belo vestido de bolinhas e o filho emburrado pego na mão. Brabeza que fechava a carinha redonda, porque a mãe não queria lhe comprar um um sorvete muito benvindo em dias feito aquele. Ele se deleitaria, se não fosse sua teimosia em não querer comer as verduras no almoço. No entanto, mal sabia a mãe que, em casa, o garotinho enfezado pegaria seus brinquedos prediletos e buscaria o ostracismo do quarto.
Já disse que os dias estão quentes. E por trás deles anda vindo a chuva nas mesmas proporções. Volta e meia, algumas vezes o táxi chega a ser uma alternativa de locomoção, especialmente quando tem aguaceira metida na história e a vontade por um transporte público fica ainda menor. Assim que tomei o primeiro táxi que avistei, as nuvens viraram gotas espessas jogadas com rajadas violentas de vento. Como de praxe, a viagem de táxi foi praticamente uma consulta ao terapeuta: você, médico; o motorista, paciente. Com o agravante ainda de eu ter caído ali bem na hora da exibição da maior tormenta do meu doente: a chuva. Em razão dela, Jair, o taxista de cujo nome lembro por conta de um broche que tinha na camisa, já desenhava os planos para os próximos dias. Degredar-se no interior, onde os 30 minutos de água fossem absorvidos pela terra e não lhe causassem tanta dor de cabeça - "Num é mesmo, dotô?"
Bem, Jair, o exílio, bom remédio para essas horas, pode se manifestar de várias formas. No seu caso, retirar-se para o interior, longe de passageiros e do caos do trânsito é uma delas. Quanto a mim, assim que me enfureço quando não ganho um sorvete refrescante em dias muito quentes, não me exonero no quarto com brinquedos. Prefiro muito mais pegar um táxi em dias de chuva, consultar o taxista e, depois de pagar a corrida, transcrever as mazelas minhas e alheias como forma de escape. Meu desterro está nessas letras, Jair.


4 comentários:

Anônimo disse...

Já tive muitas canções de exilio, nossos grandes cantores da geração anos-de-chumbo estao aqui, vivos, pra isso: Contar historias.

E pretendo me exilar, muito em breve.

Gabriela Ceratti disse...

Ricardo, realmente adorei seus textos, está de parabéns!! Passei a tarde toda lendo...realmente são muito bons!! =)

Beijos!

Anônimo disse...

Minha humilde e talvez irrelevante opinião continua sendo a mesma. Adoro seus textos! Pena que os posts tiveram sua frequência diminuida, mas isso é bom...a vontade de ver o próximo aumenta. Como sempre, parabéns!

Juliana Bragança disse...

eu amo o exilio! mas so desses q a gente determina o tempo de se afastar! se for por obrigação nao eh bom nao! mto bom o texto! parabens!