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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

EM LUTO, FUTURO

Futuro é palavra que gente pequena usa geralmente para quando ela quer se referir ao tempo que vai ser grande. Depois, ela se esvai, ou se enche de muito, mas tantos significados ao ponto de perder totalmente sua semântica. Futuro é andar enfiado em terno, carregar maleta, não se desgrudar do celular, falar difícil e, ao cabo do dia, dormir feito pedra.

Ou não. Pensar no futuro seria enxergar-se envolto por máquinas, robôs, carros voadores, vida bem ao estilo Jetsons. Foi assim, em devaneios de criança, que o princípio, bem à princípio mesmo, responsável por toda esta discussão introduziu-se na vida de cada um.

Quando ele chega - aquele futuro - tudo já está mudado. Nem sempre vem da maneira planejada, cujas prévias reservavam vestuários requintados, agendas lotadas, celulares ao pé do ouvido e as outras cousas mais. Às vezes ele chega com algumas alterações: ora com trajes mais modestos e um celular barato; ora com agendas mais folgadas, dias menos árduos e sem os incríveis carros voadores.

Por isso, mudadas as preocupações, percebidas as circunstâncias, a noção de futuro sofre uns bons retoques. No futuro, pensamos em futuro. Mais do que isso, a chegada dele faz pensarmos noutro. Desta vez, pouco importa se carros alçarão voos, no entanto se o farão sem lançar gases poluentes e nocivos à saúde na atmosfera. Isto tudo, visto por quem, ao menos, um dia teve, ou tem um carro.

No amontoado de gente que pensa em futuro, existem aqueles residentes nem ao Norte, nem ao Sul. Ficam ali, medíocres. O Haiti sempre pensou no que haveria de ser. Se a pobreza seria extinta, se os hospitais conseguiriam comportar todos os molestados e se um dia poderiam pensar em futuro de um jeito diferente. Dias passaram, um futuro próximo chegou, mas foi impiedoso. Agravou fome, matou gente, devastou todo o país... Aqueles cuja carência era a de um celular, hoje, tampouco possuem um prato de comida para sanar uma precariedade acalcada por um terremoto.

Pensamentos em futuro perdurarão. Tantos os do Norte, os do Sul e, mais do que nunca, os medíocres crerão em melhora. Agora, depois de um abalo expressivo, os novos futuros idealizados coincidirão no que nunca antes foi comum. Os futuros todos serão cultivados frente à vigia das bandeiras dançantes em meio mastro.

3 comentários:

ursula disse...

pois é ricardo, cresci ouvindo que o brasil era o país do futuro. tenho 35 anos, e já estou no futuro. e o que mudou?

Anônimo disse...

"Futuro é andar enfiado em terno, carregar maleta, não se desgrudar do celular, falar difícil e, ao cabo do dia, dormir feito pedra"
Isso também se chama mediocridade intelectual. E todos pensam nessa oportunidade de futuro.

Adorei tua visita lá no meu canto. Você tb gosta do amigo Antonio Prata. que bom.

eduardo disse...

ahhh o futuro..
quando alguém vem e nos rouba tudo que imaginamos e planejamos..um belo dum furto. teria o haiti sofrido um furturo ?
kakakak
abraços aí ricardo, prazer, parabéns e pode ter certeza que passarei a frequentar esse seu blog cheio de textos interessantíssimos! obrigado pela visita!