
Vira e mexe me vejo apanhando das conversas das ruas coisas do tipo: “Ah, fulano? Este aí não vai muito bem das pernas”. Por vezes até despercebida nos discursos, essa expressão precisa ser revista. Não digo revista no sentido de ela transmitir algum absurdo, ou algo ilógico, afinal quem nunca andou desentendido com as pernas e acabou cabaleando, tropeçando e até caindo? Na realidade, o trocadilho, que se vale de “pernas” para se firmar como tal, deve ser recebido com mais carinho depois de uns dias para cá.
Carinho, isso mesmo. Geralmente quem está mal das pernas, realmente está! Aos ouvintes só resta um: “Pobre coitado. As coisas melhorarão”. Balela, não passam de palavras que só foram ditas para darem cabo ao assunto. Sinceramente, já fiz isso, mesmo sobre os cuidados da percepção, o que é ainda pior. A responsável por regar com sentimento todo esse sermão daqueles que têm pernas ruins foi ninguém mais, ninguém menos que Dilma Roussef. A mãe condutora do PAC, a célebre ministra da Casa Civil e a provável candidata à presidência da República pelo PT esteve com as pernas doentes e comoveu muita gente – inclusive eu.
Dilma, guerreira da força sindical na política brasileira, luta em outros campos de batalha. Está num combate contra um câncer e, nesta semana, precisou ser internada depois de duas sessões de quimioterapia por conta de dores. Dores nas pernas. Quando esteve hospitalizada, a tensão se instalou pelos ares. Tanto é que se guardou o devido respeito e atribuiu mais minúcia sentimental quando as pernas da vida de alguém andam trôpegas.
Agora penso duas vezes quando cato conversas assim na rua. Aliás, raciocino bem mesmo. Dilma Roussef é exemplo de superação: abatida pelo linfoma, somadas as dores nos membros inferiores, ela se reergue para continuar na caminhada rumo ao mais alto cargo político. E eu aqui, caçando os leros na rua e zombando das pernas alheias. Estou vendo que quem anda mal mesmo com elas sou eu. Segui meu rumo pela calçada, sem tropicar e pensativo: era hora de desenrolar as minhas pernas.
2 comentários:
Belíssimo post, Chapola. Essa reflexão deveria ser cotidiana, e de todos nós.
Abraço.
Olá, Chapola.
Você não faz ideia de como este post tem a ver com muita coisa que passei recentemente.
E tudo em ordem por aí?
Abração.
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