Paletas

terça-feira, 10 de março de 2009

ETERNAS DONAS-DE-CASA


Crônica publicada no dia 8 de Março de 2009 no jornal Já!, edição especial ao Dia da Mulher.
A crônica ganhou espaço de destaque na capa da edição pela primeira vez

É corriqueira a presença de mulheres nas ruas, vestidas com os trajes finos e formais, caminhando a passos curtos, mas ligeiros. Os tamancos batucam nas calçadas um toc-toc desenfreado, suficiente para abrir caminho por entre a multidão como se avisassem “Saiam da frente: sou a pressa encarnada”. Bem, as mulheres já vêm largando os aventais há algum tempo. Sobretudo desbravaram horizontes nunca antes explorados  e cuja exclusividade se direcionava aos afortunados do gênero masculino. A política – os lados desconhecidos desanuviados pelas damas – impediu, na maior parte de sua história, uma participação generalizada. Reservava os cargos públicos a um número bem seleto de forma a excluir grande parte de indivíduos.

Exaustas de estar com as barrigas encostadas nos fogões e nos tanques, a mulherada quis fazer valer os direitos de também participar da vida extra-casa. Conseguiram. Conquistaram seu direito de voto, o mercado de trabalho, além de cargos políticos. Para se ter uma ideia, em Ruanda as mulheres chegam aos 50% do total de parlamentares; Suécia e Cuba, e Angola, 37%. Daí você se pergunta: “E o Brasil?”. Numericamente menos animador, a figura feminina brasileira ocupa apenas 9% das cadeiras.

Alijadas, portanto. Fruto de uma sociedade ainda machista. País onde vigora uma divisão explícita de ofícios consoante os sexos, onde cinicamente ainda se diz: “Lugar de mulher é na cozinha”.

Semelhante ao futebol, governar, “brasileiramente” falando, é coisa de homem. Para quem se diz inteligente,  classificar o mundo por genitálias seria cometer um disparate. Se dispostos a mudanças,  condutas  corretas seriam de cunho mais artístico que estrutural: bastam algumas pinceladas de blush, batom e sombras para tirar o ranço do machismo na política, substituindo-o pelo glamour.

Um comentário:

Mayara Maluceli disse...

Ah, eu já pensei em fazer um TCC sobre isso: como as mulheres evoluiram nas propagandas ocidentais, mas, ainda assim, continuam no mesmo lugar. Hoje, nas propagandas, as mulheres trabalham, mas continuam fazendo comercial sobre coisas relacionadas à casa.

Muito bem escrito, rich. Cada dia esse estilo surpreende sem cansar :) bjos