Paletas

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

PREPARAÇÃO DESPREPARATÓRIA

Crônica postada no dia 22 de Fevereiro de 2009 no jornal Já!.


Os foliões estão à solta. Paira no ar um cheiro de festa que invade o corpo de quem o inala. Andam os carros, os pedestres, os ciclistas, todos no ritmo do samba tocado pelos pandeiros, cuícas, repiques e tamborins dispersos pelas ruas tão já contagiadas pelo carnaval. Eu era só mais um propenso à contaminação desta febre quando transitava por entre a avalanche de serpentinas.


Nestas idas e vindas pelas cercanias da bendita farra, os olhos parecem mais sóbrios - embora seja o tempo dos ébrios - a enxergar. Os detalhes fazem-se mais salientes envoltos em multidões coloridas, fantasiadas pelos mais pitorescos trajes. Em cada loja, vazias pela alta astronômica dos preços, os atendentes dançam sem demonstrar preocupação em relação às vendas fracassadas, frente às etiquetas de R$11,70 ditas pelos sacos de 5Kg de arroz.


Estendia-se a bagunça pelo salão de automóveis, totalmente repleto de carros novinhos em folha, todos ali ainda com os bancos plastificados e o cheiro da fábrica. Se não faltavam pessoas pintadas e festeiras, os veículos tentavam, à sua maneira, passar a impressão da alegria do momento, pois assim poderiam atrair donos (apesar das tantas de álcool pelas veias, com o bolso o bêbado também se preocupa).


Reparasse bem nos rostos de algum saltitantes carnavalescos, jurava ver uma (in)felicidade bem disfarçada. Com risos amareladose a carteira de trabalha ainda empunhada depois da semana em busca de emprego, pulavam procurando consolo. Conforto este encontrado atrás das máscaras de tintas cujas cores encarregavam de suavizar a lividez dos descontentes.


Dali saíam explosões de gritos e fogos de esperança. Enlouquecidos pelo entusiasmo germinado do carnaval, os brasileiros refugiam-se dos traumas que assolam o país desde o começo do ano. No entanto, infelizmente, a festa é passageira - e, diga-se de passagem, bem mais que os problemas de então. Não nos acovardemos, povo impávido. Creiamos que esconder-se atrás de bebedeiras e cores não seja a solução. Afinal, nosso ano começará logo mais. Avante, Brasil! Que venha a batalha!

2 comentários:

Marcelo disse...

O descanso é sagrado. Acho até que trabalhamos demais. O maior problema é o destino dos frutos do nosso trabalho. Bolsos corruptos, enquanto observamos fantasiados de bananas.

Anônimo disse...

Ri,

não é de se surpreender achar o seu texto ótimo, já tive a chance de ler outras produções suas, está de parabêns pelo blog.A leitura é prazerosa e leve.

Sempre que der, passo por aqui.

Ps:Agora a vida pode começar de verdade, não eh?
huahauhauah!