UMA HISTÓRIA ABREVIADA EM SAPATOS

Crônica publicada dia 21 de Dezembro de 2008 no jornal Já!.

Uma beldade internacional quase é amordaçada pela sola de um sapato. Engraçado, né? No entanto, é fato. George Walker (quase ninguém sabe o que é o W) Bush, em seu discurso de despedida de mandato ao Iraque, teve de esbanjar manobras complicadas para desviar dos dois projéteis lançados por um jornalista iraquiano. Foi uma cena pitoresca que, sem dúvidas, será preservada nos anais do Youtube.
Vocês não imaginam quantas milhões de vezes os internautas já reviram a cena no site de vídeos mais popular da Web.

Mas voltemos ao acontecimento. Fim de mandato, as tropas americanas ainda em solos iraquianos, o clima bélico à flor da pele. Só para não ficar feio para o ainda presidente do principal país do mundo, um último discurso à nação árabe conquistada pelo exército dos EUA. Por falta de etiqueta, Bush praticamente não demonstrou – como em todo o seu mandato – piedade aos dominados, além de mostrar descaso aos soldados mortos. Não digo que se esperava pedidos de “desculpas”, pois não faz jus ao estereotipo norte-americano. O mundo aguardava por maciez do presidente. Mero anseio.
O “cara” é mais áspero que lixa.

O jornalista iraquiano, cuja pena pode chegar a 15 anos por tentativa de agressão, além de atirar os sapatos em direção ao presidente, chamou-o de “cachorro”, em alto e bom som, durante a entrevista coletiva. Depois da confusão – dos flashes voltados ao agressor, da algazarra toda – Bush prosseguiu com a ladainha disfarçando com um pouco de humor o inconveniente. Digno de risos! Risos prolongados até a posse de Barack Obama e que minguarão gradativamente devido ao rumo tomado pelas complicações no decorrer dos anos. Vem pedreira! Mesmo a par das dificuldades que o futuro reserva ao próximo presidente americano, até ele pôs-se em risos (discretíssimos por excelência) devido à façanha do jornalista iraquiano.

Fim da linha para Bush. Janeiro está batendo nas portas do país. O democrata Obama assumirá o cargo manchado por George Walker, levando a esperança do povo no sentido de resolver os problemas herdados. Deve dar um frio na barriga, porque a tarefa será osso duro de roer. A crise é mundial, a guerra passou dos limites e quase ninguém mais agüenta os mesmos discursos do antigo presidente. Dizem as más línguas que até Papai Noel, o bem visto Bom Velhinho, anda pensando duas vezes ao ler as cartas de George! Todavia, isso é o de menos. O de mais é a expectativa para o ano próximo. Prosperar é o anseio de todos. A recorrência para alcançar os pedidos vão desde orações até “reza braba”. Pena que um deles não será mais realizado. Da mesma forma que Bush enlameou a glória irradiada pela bandeira americana, os iraquianos nunca torceram tanto para o sapato atingir seu alvo: a cara do cara, ou seja, do George. Assim, a figura dos EUA – que tem a bandeira mais pisoteada no mundo – ficou como a face de Bush: pálida. As salientes solas dos sapatos não acertaram o presidente. Fazer o quê? Mas que deveriam, deveriam.