O MANTO DAS DIFERENÇAS

Crônica  publicada no dia 2 de Novembro de 2008 no jornal Já!

Ninguém mais é poupado. Nem mesmo enobrecidos títulos são considerados ante as garras imundas de quem vê supremacia estampada na cor a pele. Isabel tem seu louros por ter declarado a libertação dos escravos. Até ai, somente o termo pejorativo de "escravo" se aboliu, o desrespeito à figura negra, à sua raiz, à sua cultura continuam tão evidentes quanto antes. O pior de tudo é que a gente se acostumou. O Malaquias daqui da venda sempre diz "Poxa, cadê os bons tratos que um ser humano merece? Só porque um é 'branquelo' e outro 'negão' quer dizer então que cada um merece seu respectivo tratamento? Dê-me santa paciência não é, Dona Fulana?"

É, seu Malaquias... Imagine só se ela, a enaltecida princesa cujo título honrou em favor dos negros, não tivesse feito coisa alguma? O pior não é isso! Surpreendente foi abrir as folhas dos jornais e se deparar com o famoso Barack Obama ilustrando uma reportagem (algo costumeiro, pois estamos às vésperas das eleições presidenciais americanas) sobre relações de discriminação étnica, sua possível posse do poder e uma tentativa de assassinato. Serei mais claro: um grupo de pessoas forjavam matar o candidato democrata por ser negro e concorrer à presidência. Eis aqui o exemplo do primitivismo humano.

Bem parecido com o caso de Kennedy, só que com o agravante: Obama é negro, motivo tão relevante que o matar por isso passe a ser uma alternativa confortável. E há de se sublinhar ainda de que se trata da maior potência mundial! Que raios de hegemonia é essa? O exemplo para as outras nações seria aniquilar a população negra? Persisto: adoremos Isabel, senão o Brasil aderiria aos moldes sangrentos americanos (não que estejamos isentos de atos discriminatórios) e retornaríamos aos períodos marcados pelas algemas presas aos pulsos de pessoas como seu Malaquias.

É, seu Malaquias... A vida continua, os negros livres, mas sem os devidos bons tratos. Os brancos, sempre livres esbanjando sua posição de arianos e seu domínio inato sobre outras etnias (e eu achava que tanto Hittler como seus conceitos haviam desaparecido). A gente só cruza os dedos para isso mudar. Resta torcer para seu Malaquias continuar tocando seus negócios na venda com merecida dignidade, o ilustre Barack Obama alcançar VIVO o cargo de primeiro presidente negro dos EUA (orgulhosamente, diga-se de passagem) e os demais, 'branquelos', conscientizem-se. Norte-americanos, honrem e façam jus à posição que lhe são presentes. Nós, brasileiros, preservemos nosso patrimônio de heterogeneidade étnica, todos sobre o umbre da igualdade. Pasmem, não cuspam em tão belo esplendor de um possível convívio harmônico entre os opostos. Imaginem só a torcida do Palmeiras e do Corinthians de mãos dadas. Quem sabe...