Crônica divulgada no dia 26 de outubro de 2008 no jornal Já. Espero sempre publicar em ambos os veículos os textos para possiblitar a leitura a todos.
Um dia árduo. No serviço, agüento os chiliques do patrão além de cumprir com as minhas obrigações profissionais (e nem por isso ganho mais). Já começa por aí. Sem contar de ter como agravante o calor. Ninguém tinha me contado da mudança do inferno pra cá.
Estava cansado nesse dia. Nunca desejei tanto estar sentado na presença de meus dois filhos, minha amada esposa, uma cervejinha trincando de gelada e ela: minha Sony de 29 polegadas, paga no carnê em várias vezes com o dinheiro de muita luta.
O silvo da sirene mal soou e eu já estava rumo à Rua das Flores, 384. Silvana já esperava com o jantar pronto. Era só mandar para dentro. Enquanto ela e a criançada lavavam a louça, tomei um banho. Limpo, fui para a sala. Empossei-me do controle remoto aliviadamente. Canal 1, 2, 3... Era quilo mesmo? Jurava ter visto o mesmo nome em TODOS os canais. Algo como Eloá.
Fui verificar outra vez. Sim, todos com o mesmo conteúdo. Ficava mais irritado ao passo que minha esposa dizia "Deixa nesse canal, quero ver o que aconteceu", ou "Não dá para assistir TV se você não parar de trocar desse jeito". Aquilo foi subindo-me os nervos. Deixei. Era uma garota de 15 anos cujo namorado lhe deu um tiro na virilha e depois na cabeça, justificados por tê-los disparado, porque a amava e não compartilharia esse amor com mais ninguém.
No mínimo insano!
Sinceramente, senti um calafrio por ter passado por essas mesmas circunstâncias num tempo bem próximo. Sim, leitor, foi o mesmo que pensei: Isabela. Fiquei desconsolado, no português bem claro. É óbvio que tenho sentimentos, entretanto pretendia assistir à novela, ao futebol... Afinal precisava de uma distração depois de várias horas tolerando meu chefe problemático e correr atrás dos meus deveres. E ainda o calor!
Tudo bem. Num impulso, joguei o controle no sofá e me dirigi ao quarto depois de dar um "boa noite" bem chinfrim. Resmunguei até deitar-me na cama: "Se isso pouco acontecesse no país eu até entenderia, o problema é que se trata de algo corriqueiro e assola muita gente. Por que uma notícia dessas tem o direito de complicar um início de noite de um cara trabalhador à procura de um lazer miserável de apenas ver sua TV? Olha, serei franco: conheço muita gente trabalhadora feito eu. Têm a mesma rotina e procuram sua diversão na frente da telinha". Desgraça, tava quente além de tudo!
Estiquei as fatigadas pernas, pousei a cabeça no travesseiro. Epa, pensei em ter dito estar quente até um milésimo atrás. Na dúvida, encolhi-me num dos cantos da cama. Pelo menos dormir eu posso, só estou inconformado que refizeram a figura de uma nova Isabela (e eu pensando que havia se extingüido essa história há um bom tempo). Só torço para que nenhuma delas, nem Eloá, nem a vulga "Isa" venham puxar meu pé à noite por ter me revoltado, da mesma maneira que outros vários também o fizeram. Assim espero. Amém!
2 comentários:
Me impressionando cada dia mais! Parabéns pela oportunidade no Já, Ricardo. Certeza de que não se arrependerão de terem te dado essa chance enquanto continuarem a receber textos tão bons quanto este. ;)
ai! demorou pra colocar a proxima! ta querendo esconder seu talento?
bjao
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