Paletas

quarta-feira, 24 de junho de 2009

CHUTANDO PEDRAS


Dia de céu azul e frio nas bandas por onde passo os dias de Junho. Frio que não era motivo para prender as pessoas dentro de casa, tampouco àqueles menos atarefados, meros pedestres de mãos nos bolsos e os olhos incansavelmente em movimento na busca de atrativos urbanos. Eu era um deles naquela terça-feira gelada e de muita desocupação para uma pessoa só. Então, resolvi caminhar; vesti-me conforme as condições e me joguei às incertezas dos caminhos de descrença cobertos por folhinhas preguiçosas caídas dos galhos de suas árvores.


Era uma caminhada diferente daquela do homem ligeiro que passava ao meu lado, trajado no mais garboso terno mais o sobretudo de arremate e cuja preocupação, estampada na face, acompanhava o ritmo dos passos. Meu caso era de um passeio na pachorra do pé ante pé, enfiado nas vestimentas mais simplórias possíveis – uma calça jeans e um casaco quase todo desfiado – e, substituindo a apreensão do engravatado que já tinha atravessado a rua, carregava na cachola a indignação.


Na tentativa de ludibriar meu inconformismo e mascarar certo descontentamento literalmente preso ao meu rosto, precisava daquele passeio sem rumo, com o fim de encontrar uma distração. Logo, meus olhos, incansavelmente em movimento, miravam todos os cantos à procura de não sei o quê. Sei que pedras achadas na calçada foram um bom remédio, porque, quando chutadas para longe, as tristezas vindas à tona seguiam o mesmo rumo da pedrinha que atirei para lá depois do terceiro poste, quase no fim do quarteirão.


A quebra da melodia tocada pelo ritmo das minhas passadas lentas e, ora por um chute na pedra, ora por uma pigarreada, foi provocada por uma gritaria. Brados fininhos, irritantes; berros de criança. Era logo ali no parque, onde os pirralhos corriam freneticamente, todos vestidos à caráter de festa junina. Arremessei-me contra o alambrado e por lá fiquei contemplando o que outrora nunca havia notado – conhece esses momentos?


De repente, o frio deu uma trégua. Eu apenas analisava o quão colorida e fantasiosa é a realidade de uma criança. Quando fui uma delas, lembro que toda hora era uma boa hora para se inventar e extrapolar nas doses de imaginação. Via-me retratado ali, de caipira, correndo, enquanto gritava aos meus amigos para ajudar a capturar os bandidos, transportados por suas motos voadoras. Engraçado.


Segui meu rumo na calçada com as pedrinhas. Muitas pessoas ainda escondem seu lado “criança” até hoje (inclusive eu mesmo). E pior, várias não sabem conter esses ímpetos infantis, muitas vezes aparentes em horas e locais impróprios. Pois basta ver que castelos não são mais frutos de imaginação, mas fatos concretos. Ainda, para quem desacreditava em eventos secretos, podem crer: foram (quantos?) 500 cargos secretos existentes no senado. Sabe o que aconteceu? Resolveram soltar a imaginação. Peguei mais uma pedra, atirei-a no chão e chutei . Foram-se embora ela e mais uma de minhas desolações.

2 comentários:

Marcelo disse...

Grande texto, Chapola. Parabéns.

aline disse...

eu ja tinha lidoooo =) mto bom Riii...bjao