Depoimento de D. Conceição

Em curtos períodos, D. Conceição relata quão abismada está em face dos problemas da casa. De pouco precisamos para notar as semelhanças e as recordações que nos vêm ao ler o depoimento. Dentro de uma linguagem clara e suscinta, crio a personagem D. Conceição adequando o discurso à situação. Cabe ao leitor findar as analogias possíveis, comparando os personagens à figuras de nossa vida real.

Cruzes, que desordem! Para quem chega nem imagina que esta é a casa do Sr. Brasileiro. Tudo imundo: o chão repleto de sujeira, as paredes marcadas com mãos sujas, desordem em cima da escrivaninha... Em muitos anos de trabalho nunca deparei-me com tamanha balbúrdia.

Mãos à obra! E vassourada (uma, duas, três...mil!!!) e espanada e lustra aqui e acolá. Sai, pó! Não é que faxineira sabe mais do que pensam? Olha o tanto de impostos, de dívidas...Virgem Mãe!!! Um punhado de dinheiro preso por tiras brancas de papel e posto em envelope pardo. No verso, um apanhado de nomes típicos de doutor. Chique, sabe?

Retomei meu serviço, mas, a cada passada, era uma nova descoberta. De relance eu abria cartas, lia-as e me indignava. Quer saber? Vou-me é embora. Deus que me livre: uma casa tão linda assim e manchada com imundície das bravas...